Projeto Água Viva, do Centro Feminista 8 de Março é o vencedor do Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social
“Água Viva: Mulheres e o redesenho da vida no semiárido do Rio Grande Norte”, apresentada pelo Centro Feminista 08 de Março, da cidade de Mossoró (RN) é a vencedora do Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social, na categoria Mulheres. A premiação foi realizada agora há pouco em Brasília. A tecnologia social, cofinanciada pela União Europeia (através do projeto do quintal ao mar), é resultado da construção coletiva de um grupo de mulheres do Assentamento Monte Alegre I, de Upanema (RN) e de professores e estudantes da Universidade Rural do Semiárido (UFERSA), que buscavam alternativas de convivência com a estiagem no semiárido.
As mulheres propuseram mudanças significativas nos hábitos de suas famílias para o uso racional do recurso hídrico, e toda a água utilizada nas atividades domésticas, como lavagem de pratos e de roupas, passou a ser purificada e reutilizada na irrigação de árvores frutíferas e hortaliças agroecológicas. Antes de chegar ao seu destino final, a água que seria descartada passa por um processo de purificação por meio de filtros orgânicos, caixas e tubos instalados nas propriedades. A filtragem é feita com a utilização de produtos extraídos da região, como a palha de carnaúba e a fibra do coco triturada. Depois disso, o sistema de irrigação das hortaliças ocorre por meio de gotejamento.
O acompanhamento e as análises laboratoriais que comprovam a qualidade da água e o bom funcionamento do projeto é feito pela universidade. Rafael Oliveira Batista, professor da UFERSA e coordenador das atividades de pesquisa no projeto, explica que foi o Centro Feminista que levou a demanda para a universidade e que a parceria tem sido fundamental para a aplicação dos conhecimentos científicos gerados na universidade: “essa parceria foi imprescindível para o desenvolvimento desse produto que possibilita a convivência com o semiárido potiguar”.
De acordo com Ivi Aliana, responsável pela tecnologia, os primeiros testes para comprovar a viabilidade do projeto foram feitos em 2013 e em 2014, quando as primeiras mulheres receberam a implantação das unidades. Ela explicou que, como cada família tem um arranjo diferente, o tamanho do filtro varia de acordo com a necessidade e cada um. “Estamos muito contentes, porque foram 866 projetos concorrendo e esse resultado para nós é excelente. Isso mostra o reconhecimento do trabalho que todos estão fazendo. A tecnologia está possibilitando que as mulheres tenham alimentos saudáveis para o consumo e comercialização”, disse Ivi.
Realizado a cada dois anos, o Prêmio tem como objetivo identificar tecnologias sociais, que promovam o envolvimento da comunidade, transformação social e possibilidade de serem reaplicadas, implementadas em âmbito local, regional ou nacional e que sejam efetivas na solução de questões relativas à alimentação, educação, energia, habitação, meio ambiente, recursos hídricos, renda e saúde. Ao todo, 18 experiências no campo e na cidade disputaram o primeiro lugar em seis categorias.
Conceição Dantas, coordenadora do projeto, diz que “essa experiência dos filtros é fruto da relação direta com a autoorganização das mulheres. Quando as mulheres se sentem fortalecidas, se sentem capazes de criar, produzir e reinventar a vida. O prêmio da Fundação do Banco do Brasil é o reconhecimento disso junto à oportunidade de multiplicar esse fortalecimento e criatividade para que possamos melhorar a vida de mais mulheres e a convivência com o semiárido”.