Na última semana, nos dias 11, 12 e 13, o Centro Feminista 8 de Março esteve presente no Encontro “Feminismo e Agroecologia” organizado pela Comissão Pastoral da Terra – Nordeste 2, no Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Apodi.
O evento reuniu mais de 100 mulheres de comunidades camponesas de Apodi, Açu, Governador Dix-Sept Rosado, Caraúbas, Upanema e Cajazeiras da PB, apoiadas pelo CF8 e pela CPT, para discutir e compartilhar experiências entre feminismo e agroecologia, através do projeto “Fortalecendo Quintais” em parceria com o projeto “Caatinga Viva pelas mãos das mulheres”. A coordenadora técnica do Centro Feminista, Rejane Medeiros, contribuiu com a discussão e levou a reflexão sobre a relação entre feminismo, agroecologia e democracia. “A auto-organização das mulheres no feminismo é central para construirmos o que desejamos e fortalecer a agroecologia no dia a dia, caminhando junto com o movimento. Quanto mais fortalecemos o feminismo, mais avançamos no debate sobre agroecologia e economia solidária”, destacou Rejane.
Hilberlândia, representante da CPT NE 2, destacou o encontro como um espaço fundamental para a discussão do cuidado com a terra, vida e a autonomia das mulheres: “A agroecologia é tão ampla e diversificada que une vários debates e perspectivas, incluindo o feminismo. A maior parte da agroecologia é produzida por mulheres, e não é possível construir agroecologia — que representa vida, diversidade, produção, riqueza e alimentos saudáveis — sem a integração do feminismo”, afirmou.
A professora Andrezza Pontes, da Faculdade de Enfermagem da UERN e doutoranda em saúde pública, apresentou uma reflexão crítica sobre as condições e processos de trabalho no campo, evidenciando os impactos nocivos da exposição aos agrotóxicos para a saúde das mulheres e suas famílias. Segundo Andressa, “os agrotóxicos representam um sério risco à saúde das trabalhadoras rurais, afetando não só o ambiente, mas também o corpo e a vida dessas mulheres que, muitas vezes, são expostas diariamente a substâncias químicas perigosas sem a devida proteção e conhecimento sobre os efeitos a longo prazo”.
Além disso, foi ressaltado a construção do feminismo pelas mãos das mulheres do campo e o papel essencial no fortalecimento da agroecologia, uma prática que propõe não só a preservação do meio ambiente, mas também o cuidado integral com a vida e o bem-estar das comunidades. As práticas agroecológicas se opõem diretamente ao modelo de produção baseado em agrotóxicos, fortalecendo alternativas sustentáveis e saudáveis para as mulheres e suas famílias. O protagonismo das mulheres nesse processo se reflete na forma como elas conduzem as práticas agrícolas, com foco na preservação do meio ambiente e na valorização das tradições locais.
Durante o evento, diversas mulheres deram depoimentos emocionantes sobre a autonomia conquistada por meio do feminismo e como a prática da agroecologia tem melhorado suas vidas. Dona Ana, do P.A. Maurício de Oliveira, em Açu, compartilhou sua relação íntima com a mata e a preservação da caatinga, destacando o cultivo de sementes crioulas como uma prática essencial para a sustentabilidade. “Com a agroecologia, eu aprendi que é possível viver de forma sustentável, respeitando a natureza e tirando dela o meu sustento sem destruí-la. O feminismo me trouxe autonomia e independência, e isso melhorou minha qualidade de vida e a vida da minha família”, relatou Dona Ana, emocionada ao falar sobre seu trabalho de preservação da biodiversidade e construção do feminismo popular.
Ao final do debate, Rejane abordou a campanha “Agroecologia nas Eleições 2024”, uma importante estratégia de incidência política desenvolvida pela Articulação Nacional da Agroecologia (ANA). Neste ano, a campanha visa fortalecer a democracia, promover o debate público sobre agroecologia, estimular o compromisso de candidatas e candidatos com a pauta, e destacar a importância da participação da sociedade civil na elaboração e execução de políticas públicas eficazes.
Para mais informações sobre a campanha “Agroecologia nas Eleições 2024”, visite o site http://www.agroecologia.org.br e confira a Carta Política.
O encontro também contou com uma feira agroecológica, na qual as mulheres puderam comercializar seus produtos, fortalecendo a economia local e reafirmando o papel da agroecologia como uma prática de autonomia, resistência econômica e política. O evento foi uma oportunidade essencial para fortalecer a articulação entre feminismo e agroecologia nos territórios, promovendo estratégias que assegurem o cuidado com a terra, o meio ambiente e, sobretudo, a vida das mulheres.