O Encontro estadual “Alternativas das mulheres para autonomia econômica”, promovido pelo Centro Feminista 8 de Março (CF8) durante a 2ª Feira Potiguar da Agricultura Familiar e Economia Solidária, que aconteceu entre os dias 07 e 09 de novembro, em Natal, sendo um marco na troca de experiências e fortalecimento da luta das mulheres por autonomia econômica.
A mesa de abertura do Encontro, contou com a presença de Lidiane Xavier, representando a Subsecretaria de Mulheres Rurais do Ministério do Desenvolvimento Agrário; Isolda Dantas, Deputada Estadual do RN; Adriana Vieira, Representando a MMM RN; Ana Aline Morais, Vice-presidente e Secretária de Políticas Sociais da FETARN; Cícera Franco, Coordenação de Organização da Produção, Comercialização e Cooperativismo da FETRAF e Zélia Pamplona, Coordenadora de Juventude e Mulheres Rurais da SEDRAF.
O evento, realizado no auditório principal da Escola de Governo, reuniu mulheres agricultoras, produtoras e lideranças de comunidades rurais e urbanas de diversos territórios do estado do RN, com a presença de mais de 20 municípios, do Rio Grande do Norte. Com foco em temas como o acesso à mecanização, o programa de cisternas, a produção de algodão agroecológico, os quintais produtivos, o fomento rural, as compras públicas e a economia solidária, o seminário proporcionou um espaço rico para reflexões sobre como as mulheres têm conquistado mais autonomia e como políticas públicas podem apoiar esses avanços.
Joana Darc, agricultora na comunidade Porto do Carão, em Pendências, compartilhou sua experiência com a produção em um quintal produtivo e o impacto da política de fomento rural:
“O fomento foi muito importante porque eu tinha muito interesse em construir um aviário que deixasse os meus animais confortáveis. Hoje, tenho minhas galinhas, vendo meus ovos e, a partir disso, tiro meu sustento. É muito gratificante o que acontece no dia a dia, quando vou até o galinheiro, retiro os ovos para minha alimentação e também os vendo garantindo minha renda.”
Antônia Divaní (Preta), agricultora de Apodi, comunidade de Baixa Fechada, destacou a importância mecanização rural para a autonomia das mulheres:
“Nós fizemos a capacitação, muitas mulheres foram capacitadas, mas, até então, eu não vejo nenhuma mulher sentada no trator, só vejo homem. Mas eu vou mostrar que quem vai cortar minha terra sou eu. E eu não quero esse micro trator só para mim, não. Eu quero para todas as mulheres, porque é muito importante.”
Nitinha, agricultora de Governador Dix-Sept Rosado,compartilhou sua experiência com a tecnologia social para convivência com o semiárido para fins de atividades da agricultura familiar do seu quintal:
“O reuso da água eu faço dois dias na semana, utilizando-a apenas para regar as plantas frutíferas; as medicinais e as verduras não entram. No meu quintal, também tenho um minhocário, onde crio minhocas, e eu também vendo.”
Dona Rita, agricultora de João Câmara, comunidade Modelo, destacou a importância da assistência técnica e da organização coletiva para a autonomia das mulheres rurais:
“Na associação, somos 21 mulheres e trabalhamos com horta orgânica, além de contar com um poço irrigante. Recebemos um lote exclusivo para as mulheres, o que foi uma conquista muito forte para nós, e estamos lá todos os dias, às 3h da madrugada. Somos muito gratas ao CF8, que sempre está nos orientando sobre como devemos cultivar e cuidar no nosso lote.”
Maninha das Bonecas, do bairro de Mãe Luiza, em Natal/RN, representando as mulheres da economia solidária do urbano, compartilhou sua experiência como recuperadora de bonecas modelo “bebê reborn” e atuação impactando diretamente a reciclagem e o cuidado com o meio ambiente.
Lia Araújo, cientista social, militante da Marcha Mundial das Mulheres e Presidenta do Conselho Comunitário de Ponta Negra, em Natal/RN, falou sobre como a implementação e o avanço da engorda de Ponta Negra têm afetado a sua vida de muitas mulheres e famílias da região:
“A partir de um processo onde o capitalismo, o machismo e o racismo tomaram conta da nossa comunidade (Vila de Ponta Negra), a gente não vai deixar isso acontecer de qualquer jeito. Aqui estão as mulheres que vão construir uma outra alternativa de vida para a nossa comunidade.”
O evento também contou com a participação de várias outras mulheres que, ao longo da tarde, trocaram experiências, fortaleceram vínculos e refletiram sobre as políticas públicas que precisam ser mais efetivas para garantir que a autonomia econômica das mulheres seja uma realidade. Entre os temas abordados, destaque para a importância da participação feminina nas compras públicas e o fortalecimento da economia solidária, tanto nas áreas rurais quanto urbanas.
Neneide Lima, produtora, presidenta da UNICAFES RN e COOPERXIQUE, reafirmou a importância de manter a luta da agricultura familiar tanto no urbano quanto no rural, alertando para o retrocesso nas conquistas das mulheres.
Ela destacou:
“Esse debate não separa o urbano do rural. Ele sempre envolve a organização que fazemos, seja no urbano ou no rural, para que possamos crescer em nossa organicidade, seja no movimento sindical, através da marcha ou dos conselhos, através dos presidentes das comunidades. E nós, mulheres, precisamos cada vez mais nos organizar, pautar as políticas públicas e afirmar que precisamos nos apropriar delas.”
Gaby Sousa, coordenadora de projetos do CF8, refletiu sobre a luta pela terra e sua relação com as políticas públicas, destacando a importância do acesso à terra e da produção sustentável:
“Como a luta pela terra foi o que iniciou a luta de toda nossa vida, trazemos à tona a importância das políticas públicas que garantem o acesso à terra. Mas, tendo a terra, não queremos produzi-la de qualquer forma. Não queremos usar nossa terra para aplicar veneno; queremos produzir de maneira agroecológica. É nesse contexto que entram as políticas públicas de inclusão produtiva das mulheres, como os quintais produtivos, o programa de organização produtiva e o fomento rural, que apoiam e incentivam essa produção sustentável.”
Com o apoio e parceria da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Rural e da Agricultura Familiar (SEDRAF), da União europeia e do Ministério das Mulheres, o evento reafirmou a importância da visibilidade e do reconhecimento das mulheres na construção de um modelo de economia mais justo e solidário. Para muitas participantes, o encontro foi um marco de resistência e de esperança, evidenciando o poder transformador da organização das mulheres e do feminismo.