Neste 17 de junho, Dia Mundial de Combate à Desertificação e à Seca, uma data que nos convida à reflexão sobre a crise climática e ambiental que atinge milhões de pessoas em todo o planeta, torna-se ainda mais urgente denunciar retrocessos nas políticas de proteção ao meio ambiente no Brasil.
Recentemente, o Congresso Nacional aprovou o Projeto de Lei 2159/2021, conhecido como o “PL da Devastação”. A proposta representa um grave enfraquecimento do licenciamento ambiental ao permitir, entre outros pontos, o autolicenciamento de obras, a dispensa de estudos técnicos e científicos, e a autorização de empreendimentos de alto impacto ambiental sem considerar os territórios indígenas e comunidades tradicionais. Na prática, o projeto facilita a devastação de biomas e territórios, entregando os bens comuns da população às grandes corporações, em nome do lucro.
Essa medida é especialmente alarmante diante dos desafios impostos pela desertificação — processo de degradação do solo em áreas áridas, semiáridas e secas. Esse fenômeno, impulsionado pelo uso excessivo do solo, desmatamento, desperdício de água, mudanças climáticas e pressão crescente por alimentos, já afeta diretamente cerca de 1,5 bilhão de pessoas em 169 países. No Brasil, a região da Caatinga, especialmente dentro do Polígono das Secas no Nordeste, é uma das áreas mais vulneráveis.
Ao invés de reforçar políticas públicas voltadas à preservação ambiental e à adaptação das comunidades aos efeitos da crise climática, o PL 2159/21 aprofunda os riscos socioambientais. Essa decisão vai na contramão da justiça climática e do que propõe o Eixo 1 da 6ª Ação Internacional da Marcha Mundial das Mulheres, que em 2025 denuncia o avanço das corporações transnacionais sobre os bens comuns, bem como os impactos da mineração e da exploração predatória de energia renováveis.
Em contraste com esse cenário de ameaças, mulheres organizadas têm apontado caminhos possíveis para um futuro mais justo e sustentável. O projeto “Caatinga Viva Pelas Mãos das Mulheres”, realizado pelo CF8 e co-financiado pela União Europeia, é um exemplo concreto de resistência. Por meio da agroecologia, da recomposição florestal e do cuidado com o bioma, essa iniciativa fortalece a resiliência das comunidades e combate à desertificação com base no conhecimento e na prática das mulheres do semiárido.
É por isso que reafirmamos: as mulheres estão na linha de frente da luta em defesa dos biomas, dos territórios e dos bens comuns. Elas reconhecem na terra, na biodiversidade e nos saberes tradicionais a chave para a manutenção da vida.
Seguiremos marchando contra as ameaças corporativas e em defesa da justiça ambiental. Porque, para nós, a vida está acima do lucro!