Primeira Aula virtual do 2º módulo da Escola de Formação Feminista sobre divisão sexual e racial do trabalho com Helena Hirata e Plúvia Oliveira

Por que o trabalho das mulheres é sempre o mais difícil e menos valorizado?

A manhã desta terça-feira (05) foi marcada pelo debate sobre a divisão sexual e racial do trabalho durante a primeira aula virtual aberta da Escola de Formação Feminista, realizada pelo Centro Feminista 8 de Março (CF8) em parceria com o Governo Federal, por meio do Ministério das Mulheres. A atividade foi transmitida ao vivo pelo canal do CF8 no YouTube e contou com a participação da socióloga Helena Hirata (Universidade de Paris), da militante da Marcha Mundial das Mulheres (MMM) e vereadora em Mossoró Plúvia Oliveira, com mediação de Conceição Dantas, do CF8.

Com uma linguagem clara e fundamentada na realidade das mulheres trabalhadoras, Helena Hirata contribuiu para a compreensão de como o trabalho é organizado de forma desigual entre homens e mulheres — e como essa desigualdade se aprofunda quando falamos de mulheres negras, pobres e da periferia. Compreendemos que há uma separação histórica entre os trabalhos “de dentro” (cuidados, limpeza, cozinha, maternidade) e os trabalhos “de fora” (produção, serviços formais, cargos de liderança). Essa separação, que coloca as mulheres para cuidar da vida e os homens para cuidar dos lucros, segue viva até hoje — dentro e fora de casa.

Helena também explicou que essas desigualdades não são naturais. Elas são resultado de um sistema que combina machismo, racismo e exploração econômica. Por isso, lutar contra essa organização injusta do trabalho é parte fundamental da luta feminista. A aula também trouxe reflexões sobre os desafios enfrentados por mulheres em profissões valorizadas e espaços de poder. Mesmo com o avanço da presença feminina nas universidades e no mercado de trabalho, os salários continuam mais baixos e a sobrecarga doméstica permanece maior. A divisão do trabalho doméstico, por exemplo, ainda recai de forma desproporcional sobre as mulheres — mesmo entre aquelas que trabalham fora em tempo integral.

Durante a aula, Plúvia destacou como o capitalismo estrutura o racismo e perpetua desigualdades históricas que seguem moldando a sociedade brasileira. Ela ressaltou que hoje mais de 50% da população se autodeclara preta ou parda, o que evidencia um processo crescente de reconhecimento identitário impulsionado pelos movimentos negros e feministas. Esse reconhecimento tem implicações importantes, especialmente no contexto dos censos e na formulação de políticas públicas voltadas à igualdade racial e de gênero.

Plúvia também abordou a persistência da lógica das plantations (sistema de exploração colonial utilizado entre os séculos XV e XIX) — não apenas como um modelo histórico de exploração escravocrata, mas como estrutura ainda presente nas políticas econômicas e na organização social. Ela apontou que, mesmo em contextos de avanço político, como o atual governo, os incentivos à monocultura continuam superiores aos destinados à agricultura familiar, refletindo a continuidade do racismo estrutural. Essa lógica também se expressa na divisão racial do trabalho urbano, especialmente nas periferias, onde mulheres negras seguem desempenhando funções historicamente subalternizadas.

Foi um momento importante de escuta, troca e formação, que reafirma o compromisso do CF8 com a luta feminista popular, enraizada nas vivências concretas das mulheres trabalhadoras — do campo e da cidade. Seguimos defendendo que o trabalho deve ser fonte de dignidade e liberdade, nunca de exploração, desigualdade e sofrimento.

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