Não me diga feliz dia, lute comigo: 8 de março não é mercadoria

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Sábado amanheceu estampada, nos diversos anúncios dos shoppings do país, a frase: 8 DE MARÇO, DIA DE PRESENTEAR SUA MULHER. É desta forma que o mercado absorve nossas lutas: transformando tudo em mercadoria. Foi assim com nossa luta pela liberdade sexual, transformando nossa sexualidade em entretenimento, lucro. A cada momento somos expostas como símbolo sexual ou mesmo como algo que se compra e vende. É assim com nossa alimentação e com a luta pela divisão de tarefas doméstica quando nos apresentam a politica dos transgênicos como responsável de resolver o problema de cozinhar e todas as tarefas que essa atividade gera. E com o 8 de março não podia ser diferente.

Há algum tempo, datado desde a era do neoliberalismo dos anos 90, o sistema capitalista vem absorvendo o 8 de março como mais um dia pra promover vendas de suas mercadorias. E essa prática tem se tornado comum em escala mundial. Neste momento de disputa ideológica é fundamental reafirmarmos o 8 de março como um dia de luta das mulheres trabalhadoras.

Na segunda Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, realizada em 1910 (Copenhague/Dinamarca), diversas militantes lideradas por Clara Zetkin, propuseram instituir o dia internacional da Mulher como: “uma jornada especial, uma comemoração anual de mulheres”. Neste mesmo ano, as mulheres de Nova York já eram noticia de jornais pela comemoração do “Woman’s day”. Operárias do setor têxtil de NY construíram essas comemorações após uma greve que durou três meses e acabou 12 dias antes do Woman’s day tendo recebido apoio massivo dos movimentos socialistas. Também em Carnegie Hall, socialistas reuniram as principais associações em favor do sufrágio.

Em 1913, na Rússia, sob o regime czarista, foi realizada a Primeira Jornada Internacional das Trabalhadoras pelo sufrágio Feminino. As operárias russas participaram do Dia Internacional das Mulheres em Petrogrado e foram reprimidas. Em 1914, as principais organizadoras da Jornada ou do Dia Internacional das Mulheres na Rússia estavam presas, o que tornou impossível uma comemoração com manifestação pública. Em fevereiro de 1917, as manifestações de mulheres tomaram as ruas de Petrogrado. Eram manifestações contra a guerra, a fome, a escassez de alimentos. Era o dia 23 de fevereiro (que corresponde ao dia 8 de março no antigo calendário ortodoxo), que se comemorava o Dia Internacional das Mulheres na Rússia.

Essas manifestações cresceram, envolveram outros grupos, duraram vários dias, e deram início à Revolução Russa. Alexandra Kollontai, dirigente feminista da revolução socialista, escreveu sobre o fato e sobre o 8 de março. Diz ela: “O dia das trabalhadoras em 8 de março de 1917 (23 de fevereiro, no antigo calendário) foi uma data memorável na história (…) A revolução de fevereiro começou nesse dia”.

E as revoluções diárias não param. As mulheres continuam na luta. Com base nos valores de liberdade, igualdade, justiça, paz e solidariedade, as mulheres da marcha mundial vão às ruas. Com batuques, bandeiras, palavras de ordem, cores e irreverência, as movimentações do #8feminista da marcha aqui em Mossoró/RN, crianças, jovens, adultas, idosas batucaram latas e tambores, deixaram claro: “o nosso 8 de março é contra a mercantilização de nossos corpos e sexualidade, contra a condição de prostituição, contra a violência doméstica e sexista, contra o modelo de produção do agronegócio que ameaça a agroecologia e autonomia das mulheres e dos homens do campo na Chapada do Apodi e nos demais territórios, na construção do plebiscito popular pela constituinte exclusiva e soberana do sistema político para despatriarcalizar o poder e mudar o país, contra o racismo, a homofobia, nossa luta é todo dia!”, como disse Conceição Dantas.

Historicamente as mulheres vem conquistando direitos e construindo diversas lutas, lutas de todo dia. De 1917 pra cá, muitos avanços e, não sem resistência, retrocessos aconteceram no processo de autonomia e igualdade das mulheres. Não é com flores, chocolates e parabéns que celebramos o 8 de março. É para vencer a apropriação e a mercantilização do capital sobre a luta feminista que vamos às ruas, organizadas e conscientes, seguindo em marcha gritando pelo mundo igual para homens e mulheres, para que todas sejamos livres!

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