O desenho em grafite, a linha escolhida, os pés a postos. Dona Maria Campelo Gurgel de Bessa, 69 anos, conhecida como Dona Mariá é agricultora, professora aposentada e bordadeira moradora do Sítio Espinheiro, Rodolfo Fernandes, RN. Estudou até a 5ª série “porque antigamente não tinha as facilidades que tem hoje em dia”, conta. Saiu cedo de casa pra ensinar particular nas casas de outras famílias “lá pras bandas do Ceará”, mas antes, aprendeu a bordar olhando a mãe fazer bordados e ponto cruz. “Eu tinha muita prática em desenho, tudo que eu desenhava ficava bonito. Bordar não era tão difícil, mas eu era exigente. Se eu não achava bonito, desmanchava e fazia tudo de novo”.
Caprichosa como é, quando conseguiu trabalho como professora particular, juntou dinheiro para pagar uma bordadeira experiente para lhe ensinar a melhorar seu bordado. Fazer seu próprio álbum de bordado deixou Mariá muito satisfeita. Ao regressar para de Espinheiros, tornou-se professora da escola da própria comunidade em que morava, escola João Melo, e lá atuou durante 23 anos.
Dona Mariá casou, criou oito filhos, se aposentou, os filhos dela se casaram e foram morar com suas respectivas famílias e seu marido faleceu. O que continuou presente na sua vida foram o bordado e a agricultura.
No quintal de Dona Mariá tem romã, palma, côco, goiaba, pimenta. Ela cria algumas galinhas e patos e mesmo com a idade, não quer parar de cuidar do seu quintal, seu xodó: “com o caráter produtivo do projeto (P1+2) vai dar pra criar uns caprinos também” e sorri.
Ao longo dos anos, Dona Mariá enfrentou muitas dificuldades, problemas de saúde do marido e dela mesma, conta, mas nunca passou pela cabeça a ideia de ficar parada. Nunca deixou suas plantas, seus bichos e seu bordado de “flores, bichos e mensagens bonitas” que inspiram sua arte. Com uma máquina de bordado de pedal, do ano de 1960, ela conta como enxerga o seu ofício de bordadeira: “o que eu faço é trabalho produtivo. Onde eu vou, eu levo e vendo meus bordados. Tem bordado meu em São Paulo, em Brasília, em Fortaleza. É um sucesso”.
O bordado que atravessa a vida de Dona Mariá é o bordado da luta, da resistência e da criatividade. O bordado que lhe faz bem porque através dele se expressa, embeleza a vida e busca autonomia financeira. Características que facilmente encontramos semiárido adentro.