“Ninguém acreditava que esse dinheiro ia chegar pra gente. Chegou. Quem não se interessou pelo projeto, se arrependeu. E na hora de fazer as construções era a gente que tinha participado das reuniões, a gente que tinha o projeto em mãos. Então quando os pedreiros vinham, diziam: tem que fazer do jeito que a mulher tá dizendo. Ela é quem manda. Uma coisa nossa, pensada por nós e para nós. A gente se sente poderosa, né?”. A fala de Saúde, agricultora da comunidade de São Lourenço, Felipe Guerra/RN, na reunião de avaliação da primeira etapa de execução do projeto de Assessoria Técnica e Extensão Rural, ATER Mulheres, pelo Centro Feminista, mostra a importância das políticas públicas para as mulheres na promoção da autonomia e protagonismo das mesmas como sujeitas de direitos e de suas próprias vidas.
Durante a avaliação, as beneficiárias se mostraram contentes e cheias de planos para começar ou melhorar suas produções e deram o destaque para a importância do trabalho coletivo em que uma aprendeu com a outra, ao processo participativo na construção de seus projetos e à ação recreativa com as crianças por promover o direito ao lazer de seus filhos e filhas: “é bom quando a gente sabe que nossos filhos estão sendo bem cuidados e aprendendo coisas novas”.
A recreação, inspirada nas atividades de vínculo solidários em parceria com a ONG internacional ACTIONAID, tem a mesma duração das oficinas e reuniões e tem na programação brincadeiras, leitura e contação de histórias buscando valorizar a cultura popular, pinturas e jogos temáticos que trabalham o contexto no qual as crianças vivem e de forma educativa, para contribuir no desenvolvimento educacional da criança.
“As crianças são curiosas, o que a gente faz é alimentar a imaginação e curiosidade delas com brincadeiras, jogos e atividades ligadas à sua realidade” diz Ana Paula Martins, recreadora do CF8. Para Ana Vitória, 9 anos, as atividades recreativas são inovações necessárias para a sua comunidade: “Acho bom brincar e aprender a fazer coisas novas. É uma coisa diferente a gente estar aqui”.
As políticas públicas que tornam possível o reconhecimento e valorização do trabalho das mulheres e a luta pela sua autonomia financeira, para funcionarem efetivamente, precisam dar o acesso e o apoio necessário para garantir a participação destas mulheres. As tarefas domésticas e do cuidado que as mulheres assumem sozinhas devido à divisão sexual desigual do trabalho, faz com que quando estas precisam sair de suas casas para participar das oficinas do projeto, elas se aflijam desde a questão do almoço que precisa estar pronto até com quem vão deixar seus filhos e filhas.
Esse tipo de atividade acontece porque, de acordo com Rejane Medeiros, coordenadora do CF8, “as mulheres rurais enfrentam muitas dificuldades para ter acesso a terra e políticas de apoio à produção e com essas atividades a gente quer que as produtoras rurais possam participar mais dos momentos coletivos conduzidos pelo projeto e pelo CF8 pois, com as recreações acontecendo paralelo as ações coletivas, as mães podem participar das reuniões, dias de campo e outros momentos sem se preocuparem e, assim, se concentrarem e se envolverem realmente nas atividades”.