Via https://marchamulheres.wordpress.com/2015/03/04/dia-de-busca-por-mais-direitos-efetivos/
Há anos temos denunciado atentados contra mulheres nas universidades. Foi necessário uma CPI, na Assembleia Legislativa de São Paulo, para que viesse a público graves crimes contra universitárias. Trata-se de quadrilhas que, na certeza da impunidade, têm como objetivo atentar contra direitos de mulheres. A omissão e conivência de professores e autoridades, das diversas universidades, está assentada no patriarcado que está longe de ser superado, a despeito de décadas da instituição do 8 de Março como Dia Internacional das Mulheres. Não me esqueço do massacre da Escola Politécnica de Montreal (Canadá) em 6 de dezembro de 1989. Marc Lépine, entrou numa sala de aula de engenharia mecânica, mandou que os homens saíssem e atirou contra as alunas que ele acreditava que haviam “roubado” vaga de homens na universidade. Em seguida dirigiu-se a outras salas e atirou contra outras alunas: 14 morreram e 13 ficaram gravemente feridas.
Não se faz a outrem o que não se deseja (nem mesmo se tolera) para si. Um princípio oposto às bases em que se assenta o patriarcado que os meios universitários aprofundam e reproduzem, quando era de se esperar o contrário.
O cuidado de bebês, crianças adolescentes, doentes, deficientes, idosos e também de marmanjos saudáveis, tem sido historicamente impingido às mulheres. Além de não ser reconhecido, nem é remunerado. Elas trabalham todos os dias da semana sem descanso semanal, todos os meses do ano sem férias, todos os anos da vida. Vida? Que vida é essa? Quem a deseja?
Cada vez mais, nós, mulheres, reivindicamos a democratização dos trabalhos de cuidado, mas pouco conquistamos. A educação de meninos e meninas precisa contemplar efetivamente essa perspectiva. Há quem, além de tudo, tenta imputar às mulheres a culpa pela assimétrica distribuição do trabalho do lar. Lar? Que doce lar é esse que nos trata como escravas e nos impingem o título de “rainhas do lar”? No espaço doméstico se construiu a desigualdade entre meninos e meninas, entre homens e mulheres. É também nesse contexto que se cultivou a violência chamada doméstica a ponto de, o chamado lar ser o lugar mais perigoso para elas. É no silêncio e no aconchego (aconchego?) do lar que se impõe a submissão às meninas e que, pela exacerbação do machismo, são abusadas sexualmente pelos homens da casa.
Do lar à escola, da rua ao transporte público, da escola infantil à universidade, do trabalho ao lazer, meninas e mulheres somos assediadas continuamente. Além de discriminadas, recebemos salários inferiores aos dos homens, mesmo quando temos maior grau de escolaridade. Além disso, buscam nos mercantilizar. Pois saibam, o mundo não é mercadoria, mulheres também não.
Temos o que comemorar? Pelo dito acima, pouco, a apesar de, na América do Sul termos três presidentas: Michelle Bachelet no Chile, Cristina Kirchner na Argentina e Dilma Vana Rousseff no Brasil, todas as três com dois mandatos.
Apreciamos flores mas, o respeito a nossos direitos é o primordial.
*Iolanda Toshie Ide é militante da Marcha Mundial das Mulheres em Campinas, SP.