Encontro se encerra com carta de denúncias e propostas das Mulheres do Semiárido

 

Resiliência, resistências e alternativas. A partir das discussões que ocorreram durante os dias 6 e 8 de novembro em Ponta Negra, mulheres do semiárido escrevem uma carta de denúncias e propostas, afirmando, na contramão de tantos retrocessos, a força da auto organização para enfrentar o avanço do neoliberalismo e do conservadorismo e na construção de um semiárido vivo e feliz: SEM FEMINISMO NÃO HÁ CONVIVÊNCIA!

Segue o documento:

CARTA DAS MULHERES DO SEMIÁRIDO

O avanço do neoliberalismo e o fortalecimento do conservadorismo aprofunda, em todo o mundo, a desigualdade, ampliando a mercantilização da vida, dos territórios, da biodiversidade e dos corpos das mulheres. No Brasil, este quadro se imprime em retrocessos de direitos por meio de um golpe à democracia. Neste contexto, nós, mulheres do semiárido, reunidas em Natal, RN, nos dias 6, 7 e 8 de novembro de 2017, denunciamos:

– A invasão do capital sobre os nossos territórios através do agro e hidronegócio que tem desapropriado as mulheres de suas terras, retirado a sua autonomia e capacidade produtiva e de ação política como sujeito;

– O desmonte de direitos e políticas públicas que ameaçam as conquistas das mulheres trabalhadoras rurais, em especial a seguridade social que vinha garantindo às mulheres rurais o direito de envelhecer com dignidade, uma assistência que considera a divisão sexual do trabalho e o reconhecimento da mulher como trabalhadora rural e que está sendo ameaçada pela reforma da previdência do governo golpista;

– A destruição dos espaços de participação política como conselhos, fóruns e conferências que tiveram papeis históricos na proposição de políticas públicas nos últimos anos;

– O desmonte das políticas de convivência com o semiárido que demonstra a estratégia do governo golpista em destruir a capacidade organizativa e propositiva de bem viver dos povos do sertão para retornar às práticas do clientelismo que por anos dominaram a nossa região

– A violência contra a mulher nos espaços públicos e privados que se sustenta na articulação do patriarcado e do capital materializada na desapropriação de seus territórios, na perda de direitos, e no avanço do conservadorismo seja nas instituições religiosas e/ou estatais;

As mulheres do semiárido têm demonstrado historicamente que são capazes de montar estratégias para enfrentar e derrotar o avanço do neoliberalismo e conservadorismo. A constituição de um feminismo popular e militante constrói um projeto de sociedade pautado na autonomia das mulheres, na convivência e na agroecologia.

As experiências de auto organização, produção de alimentos saudáveis, de captação e reuso de água, das guardiãs da biodiversidade, de lutas unificadas e de enfrentamento à divisão sexual do trabalho tem concretizado o nosso projeto de um semiárido vivo e igual.

Nesta perspectiva, propomos:

– Um combate cotidiano contra a invasão do capital através dos grandes projetos do agro e do hidronegócio, das empresas eólicas e minerações e da mercantilização da nossa terra, água, ar, sol e as pessoas para o capital estrangeiro;

– Uma luta permanente pelo retorno da democracia e pela ampliação de participação popular;

– Uma luta ampla e unificada contra a reforma da previdência, o desmonte das políticas de convivência com o semiárido: Nenhum direito a menos;

– Luta contínua de enfrentamento à toda e qualquer forma de violência contra a mulher fortalecendo redes de acolhimento, grupos de auto organização das comunidades e a marcha pela vida das mulheres e pela agroecologia;

– O compromisso com o debate da divisão sexual do trabalho e a construção de instrumentos de luta como a campanha pela divisão justa do trabalho, a auto organização das mulheres, a escola feminista do semiárido;

– O fortalecimento da auto organização das mulheres fomentando uma rede de Mulheres do Semiárido.

Com isso, reafirmamos que a nossa capacidade organizativa e de unificação das lutas serão capazes de responder às adversidades desta conjuntura e apontar para um semiárido vivo com homens e mulheres livres. As mulheres são a resistência. Sem feminismo não há convivência!

 

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