Na terça, 12, 15 mulheres de Maçaranduba e Solânia do Polo da Borborema, Paraíba, visitaram o projeto Água Viva, de reúso de água, no Assentamento Monte Alegre, em Upanema. O intercâmbio foi promovido pelo ASPTA com o objetivo de compartilhar a experiência de criação e construção dos filtros de reutilização da água cinza, a partir da auto organização das mulheres, para seguir com a produção dos quintais.
Primeiro as mulheres se reuniram na sede do Grupo Lutando pra Vencer, das mulheres de Upanema, para saber como nasceu e como se aplicou a ideia do Água Viva. Itacíria explicou o processo iniciado pelo Centro Feminista 8 de Março com o co-financiamento da União Europeia e parceria com a UFERSA, na construção de três primeiros filtros em alvenaria, falou sobre a participação das mulheres na determinação do material local a ser utilizado para a filtragem da água e da premiação da Fundação Banco do Brasil que veio em seguida e possibilitou a replicação da experiência em mais casas da comunidade. Diante de uma nova oportunidade, as mulheres melhoraram a tecnologia a partir de suas próprias demandas e utilizaram a técnica de construção em placas, como nas cisternas de água, e construíram seus filtros em um mutirão. “Em três dias a gente construía o nosso filtro fazendo tudo, desde o preparo da massa, a ferragem, a montagem das placas”, diz Itacíria.
Wisla, uma das agricultoras que teve sua experiência de reúso visitada, fala como foi o processo de construção dos filtros: “aprender a construir os filtros foi divertido. A gente tava lá fazendo a massa e conversando, rindo. E aprendendo. Foi bom demais. Hoje a gente mesmo ajeita o que tem que ajeitar em casa, precisa esperar marido ou pedreiro não”.
Após um lanche servido pelas anfitriãs mostrando a diversidade dos frutos de suas produções, as visitas foram feitas nos quintais de Dona Alvani para conhecer a primeira experiência de Água Viva, com filtro construído em alvenaria, e no quintal de Wisla construído em placas.
Após explicar o passo a passo da construção, as agricultoras retornaram para sede do grupo. Lá, Kátia Santos, de Solânia, que trabalha com o fundo rotativo solidário no grupo de mulheres da sua comunidade, disse estar encantada com os “redores de casa”, como chamam os quintais em sua região: “os redores de casa muito bem organizados, fruto de uma batalha grande das mulheres que construíram os filtros com as próprias mãos e conseguem produzir mesmo na seca. Isso estimula a gente”.
Maria do Céu, da Marcha das Mulheres pela agroecologia, diz que na sua região tem bastante cisternas mas ressalta a importância do reúso até mesmo para a auto organização de mulheres, as quais são negadas a autonomia sobre as terras, a água e a própria vida: “uma coisa que é maravilhosa é que a experiência serve pra fortalecer as mulheres. Unidas em torno de um objetivo e com sua produção, as mulheres ficam mais fortes para combater a violência. Aqui ou na Paraíba ou seja lá mais onde for, não estamos sozinhas”.
As paraibanas compartilharam suas experiências, mostraram seus trabalhos com vídeos e teatro popular sobre organização das mulheres camponesas e, para encerrar, fizeram uma ciranda afirmando que é de “mãos com mãos” que as mulheres constroem novas realidades e seguem em marcha.