A programação do IV ENA segue nesta sexta, 1, com diversas instalações artístico-pedagógicas dos diversos biomas brasileiros, as lutas e resistências dos territórios. Na tenda da Caatinga II, a Chapada do Apodi, do Rio Grande do Norte, e a Chapada do Araripe, do Pernambuco, trazem suas trajetórias de enfrentamento ao agronegócio e grandes projetos e alternativas construídas coletivamente com agricultoras, agricultores, movimentos e organizações para que o povo possa permanecer e bem viver em seus locais.
Dentre os conflitos na Chapada do Araripe, Geovane Xinofonte explica que a exploração da gipsita para a produção gesseira e a previsão de um canal de transposição do Rio São Francisco pro monocultivo da cana de açúcar e eucalipto ameaçam a vida no campo e na cidade. Geovane fala também que “a vida no território pode ser melhor através da agroecologia e da convivência com o semiárido, com cada um que tá aqui a partir da Rede do Araripe, o fórum de mulheres, de juventude, das feiras agroecológicas”.
Samara Santana, do fórum de juventude do Araripe, também fala da preocupação com a sucessão rural na região: “os jovens não vêm seu lugar como futuro e o êxodo rural é nosso principal problema. Em rede, estamos trabalhando pra reforçar que a agroecologia é para nos mostrar que viver do campo é possível”.
Após a apresentação da Chapada do Araripe, a Chapada do Apodi se apresenta através de um cordel que resgata 30 anos de luta na região. O cordel feito por Dona Francina Mota, agricultora de Apodi, enfatiza o fazer agroecológico e a resistência aos projetos de perímetro irrigado e exploração do aquífero Jandaíra, além de destacar a organização popular e a resistência das mulheres.
Desde 2012, o povo da Chapada do Apodi vem lutando contra o projeto de perímetro irrigado. A partir da resistência das famílias e organizações sociais e sindicais que trabalham com agricultura familiar no território, o projeto não foi implementando como previsto, mas as empresas de monocultivos de frutas para exportação estão em ação através da exploração das águas subterrâneas fora da área do perímetro, através da escavação de poços profundos.
A água subterrânea usada pelo agronegócio pertence ao aquífero Jandaíra, um dos maiores mananciais de água do Rio Grande do Norte, responsável inclusive pelo abastecimento da capital. O uso desenfreado e sem controle desse recurso pode gerar um rebaixamento do lençol freático atingindo diretamente 600 famílias assentadas que podem ficar sem água. Há também um risco alto de contaminação da água pelo uso intensivo de veneno usado nos monocultivos.
Entre as várias formas de resistência ao projeto do DNOCS, conhecido como Projeto da Morte, as mulheres têm tido um papel fundamental. São elas que estão à frente das lutas seja através dos seus quintais produtivos e de geração de renda, seja através de ações diretas como o fechamento dos portões para que as empresas não se instalem no território; com as mobilizações no dia 8 de março e até ações no âmbito internacional como a campanha 24 horas de Ação Feminista “Somos todas Apodi”, junto à Marcha Mundial das Mulheres, em 2012.
O agricultor Antônio Rodrigues, mais conhecido como Golinha, fala do seu trabalho como guardião de sementes e como vê o conflito na região: “A gente luta pra seguir cultivando sem agrotóxicos e químicos. Sobre o bioma caatinga nós temos três assassinos: veneno, moto serra e fogo. A nossa Chapada tem o melhor solo e é rico em água. Mas estão perseguindo nossa água, nosso solo, nosso lençol. Perseguindo a vida do agricultor, contaminando nossas terras dizendo que vão trazer riquezas. Mas riquezas pra quem?”