O acesso à água é uma das maiores dificuldades para trabalhadoras e trabalhadores da agricultura familiar em muitas comunidades rurais do semiárido brasileiro. As construções de tecnologias sociais de convivência com o semiárido são meios de transformar essa realidade. E é isso que vem acontecendo nas comunidades contempladas com o Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2).
A comunidade “Cabelo de Negro”, na zona rural do município de Mossoró, na região Oeste do estado do Rio Grande do Norte, sempre enfrentou grandes problemas de acesso à água, o que dificultava a vida das famílias que trabalham na agricultura. Há cerca de 3 anos a comunidade passou a ser abastecida com água de um poço que vem outra comunidade próxima, mas isso não garantiu a segurança hídrica das famílias, pois o abastecimento é irregular, chegando a falar água por mais de duas semanas.
Com a construção das cisternas do P1+2 a população local enxerga uma alternativa para esse problema, é o que explica Erivânia Nadja as Silva, uma das moradoras contempladas pelo projeto: “Aqui vem água com muita dificuldade, aí mesmo sem reservatório, sempre que chove a gente faz de tudo pra aparar o máximo de água da chuva. Agora com essa cisterna vai ser bem melhor”. Nadja, que mesmo com as dificuldades já cultiva algumas plantas em seu quintal, se mostra animada para ampliar sua produção: “a gente produz pouco, em casa, por causa da dificuldade de água, mas tendo mais água a gente pode produzir mais”.
A agricultora também alerta que é preciso ter conhecimento sobre o clima e sobre as plantas para poder ter uma boa produção: “tem umas plantas que consomem mais água, e tem outras que é mais fácil pra cultivar. A gente investe mais nessas que não precisam de muita água”. Essa sabedoria popular é um fator relevante quando o assunto é a convivência com o semiárido, que trata justamente disso, de conhecer o ambiente em que se vive, criar alternativas para conviver com a estiagem, como é o caso da construção das tecnologias sociais, e explorar as potencialidades da região, que nem o trabalho que Nadja desenvolve em seu quintal.
Outra comunidade que também enfrenta muitos problemas com o abastecimento de água é a de São Cristóvão, também em Mossoró, como conta Francisca Maria de Oliveira: “aqui a gente tem água encanada de um poço, mas é mesmo que não ter, passa mais de um mês sem vir água. Tem que aproveitar quando tem e acumular no máximo de reservatórios que tiver”. Francisca, que também é beneficiária do P1+2, partilha da mesma empolgação em relação ao aumento da produção: “eu planto no meu quintal e crio alguns animais, galinha, ovelha, ganso, porco. Tendo água vai ficar bem melhor, vai dar pra criar mais bichos. A gente aqui produz pra consumo próprio, mas é muito bom, porque em vez de comprar fora, a gente tem em casa”.
A agricultora se orgulha de seu trabalho e ressalta que com as condições adequadas é possível tirar o sustento da família somente desta atividade: “tendo água pra gente trabalhar dá pra viver só do que a gente produz aqui na roça”, comemora Francisca.