Através do Intercâmbio das Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), os povos da América Central trocam experiências para enfrentar as dificuldades de acesso à água e produção de gás. Depois das visitas guatemaltecas ao Brasil, na segunda visita da delegação brasileira à Guatemala, programou-se oficinas de construção de tecnologias sociais para a convivência com o semiárido. Desta última experiência ocorrida entre 4 e 15 de novembro deste ano, destacamos a participação e o engajamento das mulheres – seja na agricultura, na articulação ou na construção das tecnologias sociais.
El Salvador, Guatemala, Honduras e Nicarágua estão dentro da região chamada de Corredor Seco, uma zona da eco região da floresta tropical seca da América Central. São mais de um milhão de famílias que vivem da agricultura de subsistência, com acesso limitado aos serviços básicos de água, saneamento, saúde, educação, e em altos níveis de pobreza. Em meio a todas estas condições, pensar e construir tecnologias sociais que contribuam com a agricultura camponesa e possibilitem melhoria de vida para a população significa intervir diretamente na segurança alimentar e na autonomia de vida das pessoas, especialmente das mulheres: “somos nós, as mulheres, que somos mais prejudicadas com as precariedades porque somos nós que estamos dentro da cozinha e cuidamos das crianças”, é o que diz Glória Diaz, da Associação de Mulheres Progressistas da Guatemala.
Na cidade de Chiquimula, na Guatelama, a delegação brasileira representando a ASA Brasil composta por Naidison Baptista, Antônio Barbosa, Maria Aparecida, Lindinalva Martins e Ivi Aliana se dividiu nas construções de um biodigestor, para transformação de detritos de bovinos em gás e adubo, na casa de Catalina, onde também funciona o Centro de Aprendizagem Rural, na comunidade de El Palmar; e uma cisterna de 16 mil litros, para guardar a água da chuva, na Escuela Oficial Rural Mixta Plan del Jocote – E.O.O.P, em Plan del Jocote Maraxcó, onde estudam 86 crianças entre 4 e 6 anos. Foram 15 dias de muitos aprendizados em que Maria Aparecida – ASA/SE foi responsável pela capacitação em Biodigestor e Lindinalva Martins ASA/RN ministrou oficina de construção da cisterna, mudando a vida das mulheres e das comunidades. Sobre a cisterna, Rousaura Dias explica que: “estou muito feliz com este trabalho que estão fazendo que vai beneficiar às crianças e às mulheres que vão fazer a comida, um grande benefício para escola mas também para toda comunidade que aprende o novo conhecimento de guardar a água”.
Fátima Brandalise, oficial da FAO Panamá, conta que: “Essa cooperação com o Brasil, com a ASA traz novas tecnologias diferentes que não são conhecidas aqui na Centro América e pode mostrar pra essas pessoas que existem tecnologias sociais que podem mudar suas vidas”. Outra coisa que destaca é a participação das mulheres: “elas demandam, elas necessitam e elas também vão buscar. São parceiras nossas para buscar investimento para outras comunidades e outras famílias para não terem que ir buscar tão longe a água que trazem nas cabeças e nas costas para cozinhar. Agradecemos também às mulheres do Brasil que vieram capacitar os homens que apoiam os grupos de mulheres organizadas da Guatemala”.
Sobre as oficinas, Gustavo Garcia, técnico da FAO, explica que os pedreiros que participaram da capacitação são de vários lugares da Guatemala a fim de que possam aplicar o que aprenderam nas diversas regiões do país e agradece a ASA Brasil pela oportunidade de trocar experiências e crê que as trocas devem seguir. Para Lindinalva Martins, do Centro Feminista 8 de Março, a dificuldade da fala é superada a cada dia de construção e que o melhor das oficinas é ver o interesse em aprender e saber que a cisterna vai contribuir para aquela e tantas outras comunidades guatemaltecas como contribui aqui no Brasil.
Glória Diaz, da Associação de Mulheres Progressista, explica que foi a associação que as fizeram chegar ao beneficiamento deste intercâmbio: “Somos 162 organizadas nos empreendimentos de costura, artesanato e produção de hortaliças na luta para trazer desenvolvimento para a comunidade”.
“Estamos implantando a primeira cisterna e o primeiro biodigestor na Guatemala. E são experiências importantíssimas. Nós estamos mexendo com o significado da vida deles quando as mulheres vão deixar de carregar água e buscar lenha. É importante também porque estamos, de certo modo, redimensionando o processo da FAO trazendo novas tecnologias e novas perspectivas”, fala Naidison Baptista, da coordenação da ASA Brasil.
Ivi Aliana, do Centro Feminista, explica que: “Para nós do CF8 que fazemos parte da ASA, também foi uma aprendizagem conhecer as mulheres agricultoras e suas condições de vida, trabalho e luta por um mundo mais justo para mulheres e homens. Acreditamos que este intercâmbio FAO – ASA seja semente para multiplicar as experiências e adaptações que cada lugar exige”. Desta forma, por meio da FAO e da ASA, a convivência com o semiárido muda a vida das mulheres e a organização das mulheres fortalece a convivência com o semiárido nas Américas.
Felicitaciones por la publicación, nos parecio excelente. El intercambio fue muy gratificante para ambas organizaciones y mucho mas para las familias del corredor seco de Guatemala.